Os deputados José Pedro Cachiungo e Adalberto Costa Júnior são os primeiros pré-candidatos à liderança da UNITA, nas eleições previstas para Novembro, durante o XIII congresso ordinário do maior partido na oposição que o MPLA ainda permite que exista em Angola, foi hoje anunciado.
“T emos um sistema de várias listas e nesse momento temos já duas pré-candidaturas, nomeadamente do engenheiro José Pedro Cachiungo e do engenheiro Adalberto Costa Júnior, mas essas pré-candidaturas serão depois submetidas ao crivo da comissão eleitoral entre 16 e 30 de Setembro”, disse à Lusa o porta-voz do congresso, Rúben Sicato.
Ter apoio das bases do partido e reunir 1.000 assinaturas de militantes das 18 províncias angolanas estão entre os requisitos para a eleição de um novo líder da UNITA, liderada, desde 2003, por Isaías Samakuva que ainda não indicou se irá recandidatar-se ao cargo.
Segundo Rúben Sicato, a entrega de candidaturas ao cargo de presidente de UNITA, fundada por Jonas Savimbi, morto em combate em 2002, decorre na segunda quinzena de Setembro, processo previsto nos regulamentos partidários e com avaliação do comité permanente do partido.
De 16 a 30 de Setembro decorre o prazo para a apresentação dos requisitos à comissão eleitoral, de acordo com o regulamento eleitoral, e as “subcomissões submetem-se ao comité permanente”, explicou.
“Depois disso, a comissão eleitoral terá nove dias para se saber quem será o candidato às eleições”, realçou, acrescentando que a revisão dos estatutos do partido será um dos temas em discussão no conclave de Novembro.
As autarquias, com as primeiras eleições previstas para quando o MPLA quiser (talvez em 2020), e as eleições gerais de 2022 também constam da agenda do próximo congresso da UNITA.
A data do congresso foi anunciada em Junho, por Isaías Samakuva, sem, contudo, abordar a sua continuidade, ou não, na liderança do partido.
O anterior congresso do partido, fundado em 1966, ocorreu em Dezembro de 2015, no município de Viana, a leste de Luanda, na presença de 1.165 delegados, que reelegeram Samakuva como líder, com 949 votos, derrotando Paulo Lukamba Gato (167 votos) e Kamalata Numa (25).
Em 13 de Março deste ano, numa declaração alusiva ao 53.º aniversário, a direvção da UNITA considerou actuais os objectivos da fundação do partido, face à necessidade urgente de “mudanças políticas profundas para a dignificação dos angolanos”.
A direcção da segunda força política angolana referiu que os cinco pilares fundamentais da sua criação, “o ‘Projecto de Muangai’ é actual e adaptável ao contexto de uma Angola pós-independente, carente de soluções adequadas aos problemas mais básicos que assolam a sociedade angolana”.
Galo depenado pelo MPLA e amarrado por Samakuva
Desde 2002 o Galo Negro deixou de voar. O visgo do MPLA mantém-no colado às bissapas. Os angolanos de segunda, que não os seus dirigentes, estão apanhar café às ordens dos novos senhores coloniais. Houve uma altura em a UNITA resolveu o problema do visgo. Calculou-se então que o Galo iria voar. Ledo engano. O MPLA/Estado tinha-lhe cortado as asas.
De uma forma geral a memória dos angolanos, neste caso, é curta. Importa por isso ir relembrando algumas coisas, mesmo quando se sabe que se não fosse o MPLA a cortar as asas ao Galo Negro, alguém da própria UNITA se encarregaria de o fazer.
Com a independência, os camponeses do planalto e sul de Angola sonharam (ainda hoje continuam a sonhar) com o fim do seu recrutamento forçado como escravos para as roças coloniais. A reedição da estratégia colonial por um governo supostamente independente foi um golpe duríssimo na sua ilusória liberdade.
O então líder da UNITA, Jonas Savimbi, agastado com a fraqueza e quase exaustão das forças que conseguiram sobreviver à retira das cidades, em direcção às matas do leste (Jamba), onde reorganizou a luta de resistência, aproveitou esse facto, bem como a presença de estrangeiros, para mobilizar os angolanos.
E agora? Agora (e depois de ter sido assassinado por alguns dos seus próprios militares) os seus discípulos mais ilustres preferem a escravatura de barriga cheia do que a liberdade com ela vazia.
Será que se lembram dos que só foram livres enquanto andaram com uma arma na mão? Há muito que, por obra e graça do MPLA mas – igualmente – por incapacidade dos seus quadros, se prevê o fim da UNITA.
Jonas Savimbi morreu em Fevereiro de 2002, em combate e às mãos de alguns dos seus antigos generais. Foi aí que começou a morrer a UNITA. De morte lenta, é certo, mas igualmente (tanto quanto parece) de forma irreversível.
Talvez pouco adiante continuar a dizer que a vitória seguinte começou com a derrota anterior. Isso faria sentido se o Mais Velho ainda andasse por cá.
Apesar de todas as enormes aldrabices do MPLA, as eleições acabaram sempre por derrotar em todas as frentes não só a estratégia mas a sua execução, elaboradas por alguns dos “generais” da UNITA.
As hecatombes eleitorais, sociais e políticas mostram que a UNITA não estava, como continua a não estar, preparada para ser governo e quer apenas assegurar alguns tachos e continuar a ser o primeiro dos últimos.
O sacrificado povo angolano, mesmo sabendo que foi o MPLA que o pôs de barriga vazia, não vê na UNITA a alternativa válida que durante décadas lhe foi prometida, entre muitos outros, por Jonas Savimbi, António Dembo, Paulo Lukamba Gato e Samuel Chiwale.
Terá sido para ver a UNITA a comer e calar, a ser submissa, a ser forte com os fracos e fraquinha com os fortes, que Jonas Savimbi lutou e morreu? Não. Não foi. E é pena que os seus ensinamentos, tal como os seus muitos erros, de nada tenham servido aos que, sem saber como, herdaram o partido e a ribalta da elite angolana. É pena que os que sempre tiveram a barriga cheia nada saibam, nem queiram saber, dos que militaram na fome, mas que se alimentaram com o orgulho de ter ao peito o Galo Negro.
Se calhar também é pena que todos aqueles que viram na mandioca um manjar dos deuses estejam, como parece, rendidos à lagosta dos lugares de elite de Luanda.
Por último, se calhar também é de lamentar que figuras sem passado, com discutível presente, queiram ter um futuro à custa da desonra dos seus antepassados que deram tudo o que tinham, incluindo a vida, para dignificar os Angolanos.
Não é de crer que Homens como Paulo Lukamba Gato, Kamalata Numa e muitos, muitos, outros, tenham deitado a toalha da luta política ao tapete. Também não creio que aceitem trair um povo que neles acreditou e que à UNITA deu o que tinha e o que não tinha.
E é esse povo que, de barriga vazia, sem assistência médica, sem casas, sem escolas, reclama por justiça e que a vê cada vez mais longe. E é esse povo que, como dizia o arcebispo do Huambo, D. José de Queirós Alves, não tem força mas tem razão.
Esperemos para ver se, desde logo, Samakuva não vai continuar. Depois o que os candidatos trazem de novo. Por último, veremos se Savimbi não voltará a ter razão quando dizia: “Vocês é que estão a dormir… por isso é que o MPLA está a aldrabar-vos”.
Folha 8 com Lusa